O sincretismo é um fenômeno constituinte da religiosidade brasileira e das religiões de uma forma geral. É notório que o sincretismo não se restringe apenas a uma simples analogia do Orixá ao Santo, porque ele está presente em outros momentos, como na História, nos mitos, nas lendas e nos ritos. Neste sentido ter um trabalho que fortaleça esse debate em igualdade é importante para quem deseja conhecer mais sobre o assunto.
É entendido que o sincretismo originou religiões tipicamente brasileiras, mesclando diversos elementos de outras crenças e culturas, mas com base primordialmente nos cultos africanos, nos rituais indígenas e no catolicismo. Portanto, é preciso apontar que o conceito de sincretismo, significava a preservação de crenças africanas e indígenas sob o formato católico. Não há nisto uma defesa do nefasto processo opressor físico e psicológico, mas uma constatação histórica.
Se a narrativa, o contar histórias – sejam os mitos ou as lendas – acompanha a humanidade e indica sua condição de produtora de sinais e indícios desde os primórdios de sua história, supomos que essa iniciativa em produzir um material para expor essas aproximações culturais e religiosas grava na história brasileira a força da fé das religiões de matrizes africanas que permanecem, mesmo diante da tentativa de apagamento e invisibilidade, firmes e fortes. A linguagem dessa produção, bem como os nomes e títulos oriundos do continente africanos, foi registrada de maneira aportuguesada seguindo a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana de Nei Lopes. Buscou-se equilibrar em pé de igualdade tanto uma cultura religiosa como a outra, para que o leitor possa compreender os elementos que as aproximam e conversam.
Por fim, há ainda que se ressaltar que sincretismo é palavra considerada maldita que provoca mal estar em muitos ambientes e em alguns autores. Diversos pesquisadores evitam mencioná-la, considerando seu sentido negativo, como sinônimo de mistura confusa de elementos diferentes, ou imposição do colonialismo. Embora alguns não admitam, todas as religiões são sincréticas, pois representam o resultado de grandes sínteses integrando elementos de várias procedências que formam um novo todo.
Costuma-se atribuir também o termo sincretismo, quase que exclusivamente ao catolicismo popular e às religiões afro-brasileiras. Mas o sincretismo está presente em outras tradições religiosas. O sincretismo pode ser visto como característica do fenômeno religioso. Isto não implica em desmerecer nenhuma religião, mas em constatar que, como os demais elementos de uma cultura, as religiões bem como as narrativas, mitos e lendas constituíram uma síntese integradora englobando conteúdos de diversas origens.
A formação do cidadão está intimamente ligada à subjetividade do indivíduo e suas crenças. Neste sentido a aquisição da cultura e o respeito às diferenças religiosas pressupõe o conhecimento e a educação. Por isso, essa proposta visa justificar três itens principais: a visibilidade e o respeito ao sincretismo religioso no Brasil, o trabalho do autor, que se têm construído por anos de pesquisa e produções acerca da temática, e o acesso a uma literatura de qualidade que represente esses saberes históricos e religiosos. Essa produção literária, inédita no país, até o presente momento, por compor a exposição “Trunfos da Fé”, e por ser distribuída gratuitamente, poderá servir de suporte para ações em prol e divulgação da cultura acerca da compreensão do sincretismo religioso presente na cidade de Diamantina e no Brasil. Observa-se, ainda, um retornar para sociedade por meio de um produto confeccionado com recursos públicos, revertido a nutrir uma consciência educacional, de qualidade e importante no respeito às diferenças.
Para acessar o livro: http://diamantina.mg.gov.br/wp-content/uploads/2022/02/EBOOK-Orix--s-Santos-cruzamentos-da-f--.pdf
Fonte Imagem: https://ocandomble.com/2008/05/11/sincretismo/
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