A presença das carrancas, distintas figuras de proa nas barcas que navegaram os rios do vale do São Francisco, na primeira metade do século XX, é central na compreensão da paisagem cultural daquela região. Nas margens do rio Corrente, afluente do São Francisco, no oeste da Bahia, Francisco Biquiba Guarany (1884-1985), notabilizou-se como mestre carranqueiro. Foi grande a expressividade tanto plástica, em robustas madeiras da região, como o cedro, quanto numérica, das peças que produziu ao longo de toda a sua vida. Estima-se que ele entalhou ao redor de uma centena de carrancas para uso em embarcações e a decoração de interiores.
Estudos históricos e sociais sobre o vale do São Francisco têm realçado a secular presença negra na região. Nas últimas décadas, a política de demarcação de áreas remanescentes de quilombos reiterou esta longeva peculiaridade demográfica, étnica e cultural. As carrancas são filhas do contexto artístico e social que as fez nascer e multiplicar. Um singular encontro entre artesanato rural e economia mercantil, mais do que homens e mitos, é que aguarda ser desvendado pela pesquisa histórica.
Fonte Imagem: https://www.jornaldoestadoms.com/2017/05/artigo-carrancas-na-paisagem-cultural.html
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