O gênero veio como uma resposta
para o fim da Bossa Nova no Brasil e trouxe uma renovação musical gigantesca
para o país, revelando nomes de grande peso e importância até hoje, como Chico
Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina e
tantos outros nomes.
O que é MPB (Música Popular Brasileira)?
A MPB, ou Música Popular
Brasileira, é um gênero musical que surgiu no Brasil na década de 1960, na
cidade do Rio de Janeiro, com a segunda geração da Bossa Nova.
O estilo musical é uma fusão de
dois movimentos musicais que até então eram divergentes, a Bossa Nova e o
engajamento folclórico dos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos
Estudantes, a UNE.
Enquanto aqueles mais alinhados à
Bossa Nova defendiam a sofisticação musical, os estudantes defendiam uma
fidelidade à música de raiz brasileira.
Especialmente a partir do golpe
militar de 1964, os interesses dos dois grupos começaram a se alinhar e eles se
tornaram uma frente ampla cultural contra o regime militar, adotando a sigla
MPB na sua bandeira de luta política e cultural.
História da MPB: como e quando surgiu?
A MPB surgiu em um momento de
declínio da Bossa Nova, que foi um gênero renovador da música brasileira da
segunda metade da década de 1950, que, fortemente influenciado pelo jazz
norte-americano, deu uma nova roupagem ao samba tradicional.
Entretanto, com o começo dos anos
1960, a Bossa Nova começou a passar por algumas transformações, acabando na
metade da mesma década.
Buscando uma nova identidade
musical, o estilo que hoje conhecemos como MPB era chamado de Música Popular
Moderna, ou MPM.
O nome veio para identificar
canções populares que já se diferenciavam da Bossa Nova, que não eram
exatamente samba, nem moda ou marchinha, mas que aproveitavam a suavidade do
repertório da Bossa Nova e o carisma das tradições regionais e, ao mesmo tempo,
de canções norte-americanas, que vinham se tornando populares no Brasil graças
ao cinema.
A canção “Arrastão”, de Vinícius
de Moraes e Edu Lobo, interpretada por Elis Regina em 1965, é frequentemente
associada ao início da MPB, pois ela não poderia ser enquadrada exatamente como
Bossa Nova.
Outros exemplos são as canções
“Pedro Pedreiro” e “A Banda” de Chico Buarque, e “Disparada”, de Geraldo
Vandré, que são até hoje consideradas um marco da ruptura e da “mutação” da
Bossa Nova para a MPB.
Um elemento bem característico da
MPB é a presença de uma crítica velada à injustiça social e à repressão
governamental, muitas vezes baseadas em uma oposição de cunho progressista à
cena política caracterizada pela ditadura militar.
Por esse motivo, tanto os artistas
quanto o público da MPB foram ligados, em grande medida, a estudantes e
intelectuais do país, fazendo com que, mais tarde, a MPB ficasse conhecida como
sendo a “música das universidades”.
Depois disso, a MPB começou a
abranger outras misturas de ritmos, como o rock, soul, funk e o samba, que deu
origem a outros estilos, como o samba-rock e o samba-funk.
Além disso, a música pop também
passou a se enquadrar dentro da MPB, tendo como representantes artistas famosos
como Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Raul Seixas Maria Bethânia,
Rita Lee, Gal Costa, Milton Nascimento, Chico Buarque e bandas como o MPB 4, os Novos Baianos e Os
Mutantes.
No final da década de 1990, a
mistura da música latina influenciada pelo reggae e pelo samba deu origem ao
samba-reggae, além de outras fusões, como o axé music e o manguebeat.
Vertentes da MPB
A MPB foi tão influente desde o seu surgimento que podemos dizer que dois movimentos muito famosos e importantes para a história da música brasileira foram diretamente influenciados pelo surgimento e popularização da MPB.
São eles a Tropicália e
a Jovem Guarda. Confira um pouco mais sobre esses dois movimentos a
seguir:
JOVEM GUARDA
Uma das principais vertentes da
MPB nos anos 1960 com certeza foi a Jovem Guarda, que consagrou nomes como
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
Esse movimento seguiu um caminho
bem diferente da MPB, adotando um estilo mais voltado para o rock, com guitarra
elétrica, ritmos dançantes fortemente influenciados pela música que vinha do
exterior e com temas mais “superficiais”.
Por esse motivo, até hoje existe
uma discussão ferrenha entre os especialistas se a Jovem Guarda é ou não é MPB.
De qual lado você está nessa
polêmica: é ou não MPB?
Eu, particularmente, penso que é
MPB, sim.
Isso porque, apesar dos temas
serem supostamente mais “superficiais”, eles ainda falam bastante da realidade
dos jovens da época e são músicas bem localizadas, que apesar de se
aproveitarem de ritmos do exterior, são autenticamente brasileiras.
Exemplos disso são as canções “É
Proibido Fumar”, de Roberto Carlos, e “Anarquia”, de Ronnie Von, que tem um tom
de rebeldia e ironia bem grande.
Outro exemplo, embora tenha vindo
mais tarde, nos anos 1980, é “Pega na Mentira”, de Erasmo Carlos, que apesar de
ser um rock mais puxado para o pop, ainda fala de maneira bem irônica e
debochada sobre a realidade e sobre as contradições do Brasil.
TROPICÁLIA
Já a Tropicália pode ser descrita,
de certa forma, como o lado oposto da Jovem Guarda.
Enquanto a Jovem Guarda se
aproveitava dos ritmos do exterior para fazer canções com muito apelo popular e
até mesmo fazer versões brasileiras de músicas em inglês, a Tropicália tentava
buscar misturar esses elementos do exterior para criar uma identidade musical
nacional.
Contudo, diferentemente do que o
movimento da MPB fazia, o tropicalismo era mais descontraído, sem o tom sério
de crítica direta.
As músicas do movimento são muito
marcadas pela presença de trocadilhos, ironias e figuras de linguagem que se
aliavam a uma sonoridade mais experimental e que misturava ritmos
autenticamente brasileiros com elementos mais “seculares”, como a guitarra
elétrica.
Exemplos clássicos do que estou
falando são as músicas “Tropicália” e “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, e
“Panis Et Circensis” ou “2001 (Dois Mil e Um)” de Os Mutantes.
A importância da MPB para o Brasil
Além de contribuir para a cultura
do país, a Música Popular Brasileira também teve uma importância muito grande
para a criação e manutenção de diversos movimentos sociais.
Por esse motivo, além de um
movimento artístico e cultural, a MPB também pode ser classificada como um
movimento político e social.
Especialmente durante o regime
militar, a MPB foi uma peça essencial na luta contra a censura e na busca do
resgate das raízes culturais brasileiras, fazendo com que a história desse
gênero musical se misturasse com a própria história do Brasil.
Para entender o tamanho dessa
importância, basta que a gente se lembre de músicas como “Apesar de Você” ou
“Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, que combatiam a censura de uma
maneira elegante e que passava quase despercebida pelos censores da época.
Outro exemplo clássico é a canção
“Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, que foi um
verdadeiro hino no combate à repressão.
Isso pra não falar em “Coração de
Estudante”, de Milton Nascimento, que teve um papel muito importante durante a
campanha das Diretas Já, no período de 1983 até 1985.
Quais os principais cantores da MPB?
Agora que eu já te contei um pouco
mais da história da MPB, é hora de te mostrar alguns dos principais nomes desse
estilo musical.
CHICO BUARQUE
Chico Buarque é um dos nomes mais
fundamentais da MPB. Em seu álbum de estréia (aquele cuja capa virou meme
recentemente), ele já quebra algumas tradições e traz músicas muito potentes e
que definiriam o gênero.
Estou falando aqui de músicas como
“A Banda”, “Pedro Pedreiro” e, é claro, “Roda Viva”, que fez em parceria com o
grupo MPB 4.
Ao olhar para a carreira do
compositor depois disso, a importância dele para a música brasileira como um
todo se torna ainda mais evidente.
Canções como “Construção”,
“Cotidiano”, “Apesar de Você”, “Bye, Bye Brasil”, “Meu Caro Amigo” e tantas
outras são, muito mais do que músicas, retratos do Brasil dos anos de chumbo e,
ao mesmo tempo que trouxeram uma dose de otimismo e agiram como uma espécie de
“combustível” para a luta contra a repressão.
Isso para não falar sobre as
clássicas e lindas canções de amor, como “Eu te Amo”, “Tatuagem”, “João e
Maria” e tantas outras que marcaram a história da música brasileira e do
próprio Brasil enquanto nação.
JORGE BEN JOR
Jorge Ben Jor, por sua vez, é
outro nome de peso na história da Música Popular Brasileira, principalmente por
conta da sua inovação musical já no primeiro álbum, mais centrado no violão,
bem como na incorporação da guitarra elétrica nos seus trabalhos posteriores.
Em seu álbum de estréia, Samba
Esquema Novo, ele já trouxe músicas icònicas para a sua carreira, como “Chove
Chuva”, “Quero Esquecer Você” e a internacionalmente renomada “Mas, que Nada”,
que já foi regravada até mesmo por ícones internacionais como o Black Eyed
Peas.
O seu disco mais conceituado,
entretanto, é Tábua de Esmeralda, que abre a sua fase chamada de “alquimia
musical”, sendo considerado o sexto melhor disco da música brasileira de todos
os tempos.
CAETANO VELOSO
Caetano Veloso, por sua vez, é um
dos nomes mais importantes da MPB, e tem uma carreira marcada por canções com
grande valor intelectual e poético.
Grande parte da sua importância
para a Música Popular Brasileira vem do fato de ter liderado o movimento da Tropicália.
Dentre suas grandes canções eu destaco “Alegria, Alegria”, “Tropicália”, “Ave-Maria”, “Soy Loco Por Ti, América”, “Qualquer Coisa”, “London, London” e “Coração Vagabundo”.
GILBERTO GIL
Já o Gil, além de um dos maiores
nomes da MPB, também é um dos maiores nomes da música brasileira como um todo,
sendo mundialmente reconhecido.
Ele já ganhou até mesmo a Ordem
Nacional do Mérito do governo da França e, em 1999, foi nomeado Artista Pela
Paz pela UNESCO.
Isso porque, além dos palcos, Gil
desempenha um papel político muito importante, sendo que já foi Ministro da
Cultura do Brasil e embaixador da ONU pela agricultura e alimentação.
Dentre as sua infinidade de
canções marcantes, eu dou o destaque aqui para “Andar com fé”, “Domingo no
Parque”, “Esperando na Janela” e a recente “Refloresta”.
ELIS REGINA
Já Elis Regina foi uma das vozes
mais potentes da história da música brasileira, sendo aclamada no mundo
inteiro.
Fora do Brasil, os críticos
musicais comparam a potência vocal da artista com as de cantoras como Ella
Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holliday.
Ela foi a primeira grande artista
a ser revelada pelos grandes festivais da década de 1960.
Dentre suas grandes canções, eu
dou destaque para “Como Nossos Pais”, “Atrás da Porta”, “O Bêbado e o
Equilibrista” e “Águas de Março”, que fez em parceria com Tom Jobim.
RITA LEE E OS MUTANTES
Rita Lee com certeza é uma das
cantoras e compositoras mais criativas e influentes do Brasil, sendo que a sua
carreira passa do rock pelo pop e, no início da MPB, ela desempenhou papel
fundamental como uma das integrantes de Os Mutantes.
A banda, formada por Rita Lee e os
irmãos Sérgio e Arnaldo Baptista. Uma das canções mais icônicas é uma que a
banda gravou com Caetano Veloso, a famosa “É Proibido
Proibir”, uma apresentação famosa pelas falas de Caetano Veloso ao
final da canção.
Escute o último lançamento da
cantora e compositora, que acaba de lançar uma coleção de remixes de canções
que marcaram sua trajetória ao longo desses 50 anos de carreira:
MARIA BETHÂNIA
Maria Bethânia Teles Veloso, ou só
Maria Bethânia, não é só a irmã de Caetano Veloso, mas uma artista completa,
que atua, canta e compõe.
Com mais de 30 discos gravados, a
Abelha Rainha da MPB foi a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos
no Brasil, e a artista feminina que mais vendeu discos nos anos 1970.
GAL COSTA
Gal é um ícone da MPB e também da
comunidade LGBTQIA+, já que é sempre foi assumidamente bissexual.
Ela estreou ao lado de Caetano
Veloso, Gil, Bethânia, Tom Zé e outros nomes importantes da MPB em agosto de
1964, no espetáculo “Nós, Por Exemplo…”.
Talvez a música que mais marque a
MPB seja seja a sua interpretação de “Baby” e a canção “Coração Vagabundo”, de
Cetano veloso, que fez muito sucesso na época.
Fonte Imagem:
https://www.deezer-blog.com/br/mpb/
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