sexta-feira, 29 de julho de 2022

Quem maltrata a natureza desperta toda a ira do Curupira

 

BAG, Mario. Mitos e Lendas do Folclore do Brasil. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 2013.

O Curupira é caracterizado como uma entidade das matas que se manifesta na forma de um menino de cabelos compridos e vermelhos cuja característica principal são os pés virados para trás.[1]


Etimologia

Os termos "curupiral" e "curupira" procedem do tupi kuru'pir, que significa "o coberto de pústulas"[2]. Segundo o folclorista ítalo-brasileiro Ermanno Stradelli, procedem de curu, contração de corumi, "menino", e pira, "corpo", significando, então, "corpo de menino". Já segundo Eduardo Navarro, especialista em tupi antigo, o termo se origina da contração entre kuruba, "sarna" ou "verruga", e pira, "pele", significando, portanto, "pele de sarna" ou "pele de verrugas".[3]


História

Um dos mais populares e espantosos entes fantásticos das matas brasileiras, o curupira é um anão de cabeleira ruiva, pés ao inverso, calcanhares para a frente. A mais antiga menção de seu nome é de José de Anchieta, em São Vicente, em 30 de maio de 1560:

É cousa sabida e pela bôca de todos corre que ha certos demonios, a que os Brasis chamam corupira, que acometem aos Indios muitas vezes no mato, dão-lhes de açoites, machucam-os e matam-os. São testemunhas disto os nossos Irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles. Por isso, costumam os Indios deixar em certo caminho, que por asperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras cousas semelhantes como uma especie de oblação, rogando fervorosamente aos curupiras que não lhes façam mal.[4]

Demônio da floresta, explicador dos rumores misteriosos, do desaparecimento de caçadores, do esquecimento de caminhos, de pavores súbitos, inexplicáveis, foi lentamente o Curupira recebendo atributos e formas físicas que pertenciam a outros entes ameaçadores e perdidos na antiguidade clássica. Sempre com os pés voltados para trás e de prodigiosa força física, engana caçadores e viajantes, fazendo-os perder o rumo certo, transviando-os dentro da floresta, com assobios e sinais falsos.

Do Maranhão para o sul até o Espírito Santo, seu apelido constante é Caipora. Eduardo Galvão informa: "Curupira é um gênio da floresta. Na cidade ou nas capoeiras de sua vizinhança imediata não existem currupiras. Habitam mais para longe, muito dentro da mata. A gente da cidade acredita em sua existência, mas ela não é motivo de preocupação porque os currupiras não gostam de locais muito habitados."

"Gostam imensamente de fumo e de pinga. Seringueiros e roceiros deixam esses presentes nas trilhas que atravessam, de modo a agradá-los ou pelo menos distraí-los. Na mata, os gritos longos e estridentes dos Currupiras são muitas vezes ouvidos pelo caboclo. Também imitam a voz humana, num grito de chamada, para atrair vítimas. O inocente que ouve os gritos e não se apercebe que é um Currupira e dele se aproxima perde inteiramente a noção de rumo."

O estado de São Paulo, pela lei de 11 de setembro de 1970, assinada pelo governador Roberto Costa de Abreu Sodré, "institui o Curupira como símbolo estadual do guardião das florestas e dos animais que nela vivem." No município de Olímpia, nesse estado, por mais trinta anos consecutivos, não são assinados quaisquer documentos oficiais durante a semana em que ocorre o Festival de Folclore, no mês de agosto, período em que a autoridade municipal é representada pelo Curupira, que exerce seu poder protegendo a população local e os visitantes que ali comparecem, pássaros, matas, etc. No Horto Florestal da capital paulista há um monumento ao Curupira, inaugurado no Dia da Árvore21 de setembro.


Referências:
Instituto Butantan. «Conheça a história do curupira, o defensor das árvores e dos animais». Consultado em 30 de Junho de 2022
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 513.
NAVARRO, Eduardo de Almeida. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 245
«Caderno nº 7, CARTA DE SÃO VICENTE, 1560» (PDF). São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Série Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica: 32. Primavera 1997. Consultado em 9 de fevereiro de 2021
CASCUDO, Luís da CâmaraDicionário do Folclore Brasileiro. 9º edição. São Paulo, Global, 2000.


Texto extraído de: https://pt.wikipedia.org/
Fonte Imagem: BAG, Mario. Mitos e Lendas do Folclore do Brasil. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 2013.

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