quarta-feira, 7 de julho de 2021

Giro das saias: o embrionário empoderamento feminino na manifestação artística e cultural da Folia de Reis

 



Esta pesquisa foi guiada pelo desejo de mostrar e analisar a trajetória de mulheres no contexto androcêntrico das Folias de Reis da cidade de Leopoldina – MG. No transcorrer da pesquisa foi possível compreender que a mulher não se inseriu tardiamente nesse universo, como possa supor um observador descontextualizado e apressado. Na verdade ela sempre esteve intrinsecamente inserida, envolvida e absorvida pelas demandas da manifestação em honra aos Santos Reis, porém em lugares e funções invizibilizados. Por um viés interdisciplinar, tangendo perspectivas etnográfica, sociológica, antropológica, histórica e com um olhar sensível para o contexto artístico que se desvela, o desafio foi lançado com a necessidade de análise das relações de poder existentes em uma encruzilhada onde se encontram religião, mulher e folia. Como se estruturou essa relação no passado, que desdobramentos tal relação contemplam as mulheres hoje e como sua agência atual, suas possibilidades de liderança que já se legitimam, projetam um futuro feminino nas Folias de Reis se expressam como demandas essenciais desta pesquisa. Para refletir sobre isso se tomou por base 4 grupos de folias leopoldinenses: Folia da Serra, Folia dos Colodinos, Folia da Maú e Folia da Luíza. Quais caminhos as líderes de folia traçaram ou lhes foram oferecidos que não se desvelaram para as outras que continuam à margem das esferas de visibilidade e poder da folia? Teriam esses caminhos tão diversos base religiosa? Quais legitimações e proibições mitológicas, representantes de uma estrutura de pensamento, se impuseram no refreamento ou impulsionamento da agência autônoma das mulheres nesse cenário? Tais questionamentos suscitaram uma investigação rizomática, que demandaram uma análise balizada pela categoria de gênero que só se anuncia plenamente na interseccionalidade. Assim, foram perscrutadas religiosidades, estruturas míticas, submissão e liderança femininas em contextos diferentes unidos somente pela lógica da devoção aos Santos Reis. Esteticamente e artisticamente é possível perceber semelhanças profundas entre os grupos, porém a dinâmica de poder que se articulam em seu interior e a pertença religiosa que possui relação íntima com as esferas de poder, diferenciam de maneira sensível suas identidades, atitudes, escolhas e caminhos a seguir e trilhar. São as tensões e ressignificações desses caminhos que nos debruçamos a percorrer e perscrutar suas causas e consequências, que se desvelam e se expressam em uma tradição cultural cambiante devotada a santos peregrinos.

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