Ziraldo, o multiartista do desenho
e da palavra, é também um animal político refinado.
Por José Carlos Ruy
A preocupação, que é política, com as coisas do Brasil
aparece em seu trabalho, ao lado da luta bem humorada e intransigente contra
formas de opressão política e “de costumes”, que se traduzem em atentados
contra a democracia e contra a liberdade pessoal. E que o levou à prisão, em
dezembro de 1968, um dia depois da imposição pela ditadura do Ato Institucional
nº 5.
Mas não se acanhou. Nem se calou. E poucos meses depois esteve entre os
jornalistas que lançaram um dos mais mordazes jornais, que se esmerava em rir
não só costumes, mas sobretudo da ditadura, dos generais e dos ridículos
hábitos da direita: O Pasquim, cujo primeiro número circulou em 26 de junho de
1969.
Mas talvez tenha sido no governo Sarney (1985-1989) que esse
compromisso com a democracia e a brasilidade tenha se manifestado com mais
visibilidade. O ministro da Cultura era o artista plástico e designer Aloizio
Pimenta, que o nomeou para dirigir a Funarte. E ali, Ziraldo protagonizou um
debate de grande significado. A preocupação de Ziraldo com a cultura brasileira
apareceu então em um texto dirigido ao ministro, no qual ele defendia o apoio
oficial a manifestações de arte e cultura ligadas ao povo – entre elas a
culinária – dentro de uma concepção ampla da cultura popular que, em sua
opinião, devia se apoiada pelo Ministério.
A polêmica que se abriu foi intensa e reveladora da oposição
que existe, no campo da luta de ideias, aqueles que defendem os traços da
brasilidade, aos que, assumindo um cosmopolitismo mal interpretado, voltam as
costas para o Brasil e para o povo.
Rapidamente a Folha de S. Paulo, que já se distinguia como
porta-voz de pontos de vista antibrasileiros, apelidou o programa apresentado
por Ziraldo como “a cultura da broa de milho”, definindo com clareza aqueles
campos.
Aluisio Pimenta (cuja passagem pelo ministério da Cultura foi
abreviada pela celeuma causada pela direita “pós-moderna”), resumiu a polêmica
quando disse: “A arte e a literatura são importantes, mas esquecemos a cultura,
do ponto de vista antropológico. Não aceitamos a globalização como está sendo
imposta. Não sou xenófobo, mas o fast food tomou conta do país”, disse ele.
E Ziraldo, em 19 de julho de 1999, ao ser entrevistado no
programa Roda Viva, da TV Cultura, resumiu seu compromisso, que é cultural e
político: “Eu tenho um propósito, eu, pessoalmente.
Eu sou um escoteiro. Eu
tenho propósito. A partir do momento que você tem um espaço onde você fala para
mais de duas pessoas ao mesmo tempo, num país onde tudo tá para ser feito, você
tem responsabilidades. (…) Quer dizer, você não pode ser leviano. Eu não estou
interessado em vender muita revista. Eu não estou interessado. Eu não estou
interessado em fazer um grande sucesso comercial. (…) Eu quero botar minhoca na
cabeça das pessoas, eu quero reflexão. O que eu quero é que a sociedade
reflita, eu quero é que as famílias pensem. (…) Então, de que maneira eu posso
contribuir? Fazendo as minhas revistas, fazendo meus livros para criança (…) É
isso”.
Texto extraído de: https://www.brasilcultura.com.br/menu-de-navegacao/artes-plasticas/ziraldo-e-a-importancia-da-brasilidade/
Fonte Imagem: https://www.brasilcultura.com.br/menu-de-navegacao/artes-plasticas/ziraldo-e-a-importancia-da-brasilidade/
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