quarta-feira, 22 de junho de 2022

Quem foi Ferreira Gullar? O artista dos poemas e das gravuras

“A arte existe porque a vida não basta”.



Essa citação de Ferreira Gullar, além de poética, expressa de forma graciosa a mais perfeita tese sobre a conexão da arte com o sentido de vida.

Nascido em 1930, o brasileiro Ferreira Gullar nunca foi óbvio. Afinal, representou muitos em um só, conquistando papel de destaque em tudo que se propôs a fazer, seja como poeta, artista, intelectual, crítico de arte ou gravurista.

Seus trabalhos marcaram a história da literatura brasileira e latino-americana pelo bom gosto e elevada qualidade. Assim, tanto a sua primeira grande coleção de poemas publicados em 1954 como a sua obra Concreta e Neoconcreta (1957 e 1959) influenciaram diversas gerações.

Seu brilhantismo foi tanto que, em 2014, Gullar conquista uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Assim, torna-se um poeta imortal, um simbolismo sublime que combina com sua jornada.


Breve Biografia de Ferreira Gullar


Nascido em São Luís do Maranhão como José Ribamar Ferreira (10 de setembro de 1930 – 4 de dezembro de 2016), o artista Ferreira Gullar elege, em 1951, o Rio de Janeiro como morada. Poucos anos depois, em 1959, ele se destaca como peça fundamental para a formação do Movimento Neoconcreto.


Sem papas na língua, Gullar fica conhecido por expressar tudo o que pensa. Assim, sua trajetória é marcada pelo espírito de livre pensador e por seu engajamento no cenário político. Uma prova disso é o fato de que ele se torna presidente do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), em 1962. Dois anos depois, em 1964 (ano do Golpe Militar), filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Seu temperamento e visão política não passam despercebidos. Assim, o decreto do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, o atinge em cheio. Logo, é preso e, em 1971, é exilado. Nos anos seguintes vive em países diferentes, como França, Rússia, Chile, Peru e Argentina, onde segue escrevendo para o Pasquim, um jornal que combatia a ditadura de forma inteligente e bem-humorada.

Enquanto mora em Buenos Aires, escreve seu mais famoso poema, Poema Sujo, de 1975. Lido em um encontro organizado por Vinicius de Moraes, o poema é gravado em fita. Então, o cantor o traz para o Brasil e o compartilha com vários outros artistas. Em seguida, o poema é transcrito e publicado em 1976.

Com mais de 2000 versos, “Poema Sujo” se baseia nas memórias de infância e na adolescência vivida em São Luís. Seus escritos também retratam a angústia em estar longe de sua terra natal.
Acreditando que aquelas poderiam ser suas últimas palavras escritas, Gullar enxerga nesse poema a necessidade de descrever “um testemunho final antes de silenciá-lo para sempre”.

Em 1977, seus amigos artistas negociam a volta segura de Ferreira Gullar para o Brasil. Em seu país, ele escreve em jornais e também publica livros. De volta, o poeta mantém uma coluna semanal de sucesso no jornal Folha de S. Paulo e também começa a escrever para o teatro e a televisão.

Entre os principais textos, ensaios, poemas e livros de Ferreira Gullar temos:
 “A luta corporal”, de 1954
“Manifesto neoconcreto” e “Teoria do não-objeto”, de 1959
“João Boa-Morte, cabra marcado para morrer”, de 1962
“Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, de 1966 (peça em 3 atos)
“Dentro da noite veloz”, de 1975
“Poema sujo”, de 1976
“Na vertigem do dia”, de 1980
“Argumentação contra a morte da arte”, de 1993
“Muitas vozes”, de 1999
“Em alguma parte alguma”, de 2010
“Autobiografia poética e outros textos”, de 2015 (ensaio autobiográfico)


Quem foi Ferreira Gullar: Gravuras e Pinturas


Além dos poemas, Ferreira Gullar é reconhecido também como crítico de artes plásticas. Nessa área publicou títulos como Sobre Arte (1983) e Etapas da Arte Contemporânea: Do Cubismo à Arte Neoconcreta (1998).

A versatilidade de Gullar não se mostra apenas pela produção dos mais diferentes ensaios, reportagens ou livros, mas também por suas criações no campo da pintura e da gravura. Sobre essas estéticas, o artista fez a seguinte declaração:
“…um quadro, uma gravura ou um desenho pode nos facultar prazer estético –como, por exemplo, algumas gravuras de Marcelo Grassmann ou certos quadros de Iberê Camargo, ainda que o que nos mostrem seja uma cena cruel ou sofrida. Tudo bem, mas a questão que se coloca é a seguinte: não seria mais gratificante, para quem os vê, poder fruir deles, juntamente com a beleza formal e a realização artística, uma visão plena de vida e felicidade?”


Ferreira Gullar e o Neoconcretismo


Ferreira Gullar foi uma peça-chave para o Neoconcretismo, movimento de vanguarda que ocorreu no Rio de Janeiro de 1959 a meados da década de 1960.

Considerado um “divisor de águas” na história da arte brasileira do século XX, esse movimento teve Ferreira Gullar como um de seus precursores. Valorizando o subjetivismo da criação artística, o neoconcretismo surgiu também como uma forma de criticar o racionalismo e o dogmatismo do movimento concretista. Nesse cenário, Gullar guiou o movimento por meio de sua poesia, crítica de arte e trabalho de curadoria.

Além dele, artistas, como os poetas Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, renovaram os parâmetros artísticos. Assim, combinaram a mídia tradicional (como pintura e escultura) com poesia, teatro, arquitetura, dança, literatura e design gráfico.

Ferreira Gullar (1930-2016) devotou-se a um hobby: produzir colagens. Poeta, crítico de arte e autor do Manifesto Neoconcreto, que projetou Lygia Clark e Hélio Oiticica nos anos 50, Gullar recebeu um impulso curioso para se lançar na arte dos relevos feitos de papel recortado com tesoura. Certo dia, seu gato — o Gatinho — deu uma patada nos papéis que ele se preparava para colar, revelando o avesso deles. 

Relevos nascidos do acaso

A relação de Ferreira Gullar com o movimento atingiu seu auge com a criação do “Manifesto Neoconcreto” (1959), que enfureceu acadêmicos, mas foi ovacionada por artistas de vanguarda.
O reconhecimento de Gullar aconteceu apenas na década de 1990. Nesse período, foi agraciado com os mais diversos prêmios e homenagens, como o Jabuti. Em 2002, recebeu uma indicação para o Prêmio Nobel de Literatura e, em 2014, aos 84 anos, tornou-se um imortal da ABL. Morreu dois anos depois deixando um legado e uma história de vida incríveis.



Texto extraído de: https://laart.art.br/blog/ferreira-gullar/
Fonte Imagem:
https://laart.art.br/blog/ferreira-gullar/
https://www.ovictoriano.com.br/page/noticia/artistas-homenageiam-ferreira-gullar
https://www.revistasim.com.br/exposicao-apresenta-obras-ineditas-de-ferreira-gullar/
 

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