sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

UMA IMAGEM, MIL PALAVRAS: Olavo Romano, o eterno contador dos Casos de Minas

Nesta semana fui arrebatado pela memória das coisas da terra e das pessoas. Este rio sempre navegou em mim, contudo inexplicavelmente de tempos em tempos ele transborda, invadindo as margens e inundando todo o sentimento...

Na ribeira deste rio, penso nas pessoas, aos meus que navegaram rio-abaixo e que um dia encontraremos em uma grande festa no ponto de encontro rio-mar...

É onde cultura, pessoas e lugares se encontram. Na parede da memória guardo um livro que acompanhou minha vida. Conhecido em menino, Minas e seus Casos de Olavo Romano me encantou, me deixou hipnotizado. 

Alguns anos depois, num mundo onde a internet ainda não era nem sonho, até hoje não sei como, consegui o contato por telefone com uma livraria e finalmente adquiri outro livro fantástico: Casos de Minas, lançado pela editora Paz e Terra. A capa de uma velha casa de fazenda me transportava para minha casa. Fotografia impactante que também assombrou Drummond. Minas Gerais tem dessas coisas...  Década mágica de 1980 que trazia nestes livros o cheiro de Minas.

Muitos anos depois, tive a honra de participar do Projeto Sempre um Papo em Juiz de Fora ao lado do Olavo Romano. Emoção grande para aquele rapaz que ainda garoto viajava nas capas daqueles livros. Com o Grupo Amalé, cantamos Ribeirão Encheu, uma Folia de Reis da região de Porteirinha, abrindo as porteiras, portas e janelas das pessoas de Minas. Honra minha de estar ao lado do Olavo e do Seu Antônio Macário, cantador e contador das coisas da vida...

Muitos anos se passaram e com espanto encontrei uma nova edição do Casos de Minas pela Paz e Terra. Mas faltava alguma coisa. A alma daquela casa velha não estava lá.

Agora, em Belo Horizonte neste mês de janeiro de 2024 não acreditei ao ver o relançamento do Casos de Minas, edição comemorativa de seus 40 anos (1982-2022), pois lá estava ela: a velha casa da fazenda servindo de abrigo para a nossa cultura tão desrespeitada e tão importante para nós. A companhia Caravana encarou a empreitada. Ao ver a velha casa fiquei estático e sorrindo, quieto. Era o reencontro de quem nunca realmente partiu... Mas nesta semana, juntamente com as chuvas de janeiro, este rio transbordou, me  enchendo de lembranças e sentimentos. Como naquele impulso do garoto há quase quarenta anos atrás, hoje adquiri o livro pela internet. Um ciclo que se completa... 

E num relance ao procurar pelo Olavo na internet, acabei de saber que ele se encantou há alguns meses. Não foi à toa a enchente deste rio. O barqueiro tem de suas sabedorias... Um filme de minha vida passou neste momento. Quem vive as coisas da terra se depara com estes acontecimentos. Segue canoa e leva o querido Olavo para junto dos seus, contarem estes eternos Casos de Minas. No rastro desta canoa ficou só sentimento...

Frederico do Valle, Belo Hoirizonte, 26 de janeiro de 2024

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