Artigo ressalta importância do
diálogo entre as culturas para o dia mundial da Diversidade Cultural para
Diálogo e Desenvolvimento
Por Danilo Nunes - músico, ator, historiador e pesquisador de Cultura Popular Brasileira e Latino-americana.
A cada dia torna-se mais
urgente repensarmos o mundo pela ótica da diversidade cultural para que
possamos compreender as formas, costumes, produção e necessidade dos povos.
É emergente o diálogo entre as
culturas para construirmos um mundo mais sustentável, de igualdade social,
direitos e liberdade, respeitando as diversidades.
Com base no dia 21 de maio
que, está marcado no calendário da Organização das Nações Unidas o dia mundial
da Diversidade Cultural para Diálogo e Desenvolvimento, instituído em sua
assembleia geral no ano de 2002 após aprovação pela Unesco da Declaração
Universal sobre Diversidade Cultural de 2001, precisamos reconhecer a
necessidade de aumentar o potencial da cultura como meio de alcançar
prosperidade, desenvolvimento sustentável e coexistência pacífica mundial.
Nós, seres humanos somos desde
o momento em que somos inseridos na vida social, produtores de cultura. Aliás,
somos a única espécie com essa capacidade, o que nos difere de todas as outras
nos colocando na condição humana.
Somos capazes de voar sem ter
asas, de atravessar o oceano sem ser peixe, de construir e destruir, de
preservar os recursos naturais e/ou acabar com eles.
Somos por natureza, produtores
de cultura, mas neste artigo quero abordar, com o intuito de reflexão, a forma
simbólica da cultura: Arte.
A arte é a ferramenta cultural
que tem a capacidade de comunicar a partir da própria experiência humana,
trazendo à tona as condições sociais, econômicas e políticas do nosso planeta,
assim como também é utilizada como instrumento de massificação pelo próprio
sistema regente. Ela nos mostra uma capacidade inigualável de alienação dos
povos, gerando as condições para a implantação e aceitação de sistemas que
oprimem e colocam o ser humano na condição de explorador da própria espécie,
assim como é capaz de nos libertar das amarras e do aprisionamento intelectual.
Foi a partir da cultura que
descobrimos em nossa história a palavra Etnocentrismo, conceito utilizado para
justificar todas as formas de exploração, invasão, colonização, escravidão e
massacre das diferentes culturas.
Muitas vezes a arte foi
utilizada como instrumento de segregação e divisão social, formando uma elite
intelectual e econômica europeia que se autoproclamava melhor (culturalmente)
do que povos intitulados bárbaros e selvagens, justificando e criando as
condições para as invasões e retaliações.
A arte também é uma forte
ferramenta de comunicação capaz de conscientizar a população e resistir,
através de suas manifestações, denunciando e nos mostrando os verdadeiros
sentidos e objetivos das ações das classes dominantes dentro do sistema
capitalista e neoliberal.
Os (as) artistas se tornam
agentes culturais de transformação social, capazes de levar a informação por
meio da linguagem simbólica à lugares inacessíveis.
Qual o verdadeiro papel do
(a) artista na sociedade? Entreter ou informar?
Posso dizer que são os dois,
pois para informar e conscientizar é necessário entreter e para entreter é
preciso ter o que dizer ou se apropriar do discurso.
Ter o que dizer é fundamental
para o ser humano em todos os sentidos. Faz-se necessário a organização do
discurso a partir da simbologia e seus significados o que demanda estudo das
técnicas e atenta observação do mundo. Quando digo estudo, estou me referindo
ao conhecimento das ferramentas artísticas e suas capacidades. Já a atenta
observação nos traz o conhecimento das formas culturais (no fator
antropológico) e as transformações naturais que as colocam em movimento
permanente. Isso permitirá que o (a) artista um bom aproveitamento da
ferramenta para despertar a atenção do público e tornar a comunicação mais
eficiente, aproximando-o pela identificação ao discurso, compreendendo-o.
É relevante o grau de
responsabilidade e importância que tem a arte em nosso mundo. A arte está e
esteve presente, como protagonista em cada momento de luta e resistência, mas
também já foi usada por sistemas para impor as condições de submissão aos
povos.
É preciso saber em que lado da
história estamos: Do explorador ou da resistência.
Dentro do isolamento social
que fomos colocados em decorrência da pandemia da Covid-19, artistas de todo o
mundo e de todas as culturas se tornaram, como nunca, essenciais em nossa vida
cotidiana por meio de lives, shows, bate papos, cursos, entre tantas outras
atividades, tirando as pessoas do ócio e da estagnação. No momento em que nos
encontramos, os (as) artistas se fizeram extremamente necessários (as), não
apenas como animador (a) de festa, mas como comunicador (a) capaz de
estabelecer um diálogo consistente com a população, muitas vezes descrente e
amedrontada sem saber o que será do amanhã.
Artistas, por consequência do
momento vivido e por necessidade de comunicação, foram capazes de se apropriar
das ferramentas tecnológicas em pouco tempo para que pudessem estar junto às
pessoas em suas casas, por meio de computadores, celulares de forma independente
sem fazer uso das formas midiáticas tradicionais de alienação de massa.
Portanto a arte não é apenas
uma profissão como outra qualquer, mas também é ferramenta que possui grande
responsabilidade na construção do mundo que queremos, trazendo à tona a partir
da interpretação de seus símbolos as mais autênticas formas de expressão
cultural da humanidade.
Dar condição ao (à) artista
prosseguir com seu trabalho, torna-se necessário a partir de políticas públicas
e oportunidade de trabalho.
Viva a Diversidade Cultural,
identidades e pluralidades presentes e, viva a arte que resgata, reforça,
comunica e questiona todo um sistema em defesa da humanidade: Igualdade e
Liberdade dos povos!
Texto extraído de: https://mst.org.br/2021/05/17/arte-ferramenta-de-resistencia-cultural/
Fonte Imagem: https://mst.org.br/2021/05/17/arte-ferramenta-de-resistencia-cultural/