Século
XVI-XVIII – Um universo bastante rico surge com as contribuições musicais das
diversas etnias que compõem o povo brasileiro. Os colonizadores portugueses
trazem a tradição das peças eruditas européias, um acervo de cantigas
populares, além do som das fanfarras militares dos regimentos do exército que
aqui se alojaram. Há também influências da música sacra, trazida pelas várias
missões católicas. Os escravos africanos mantêm a música marcada por uma forte
energia rítmica e percussiva em seus ritos religiosos. Os povos indígenas, por
sua vez, a praticam ligada a cerimônias significativas no cotidiano da vida
tribal.
1750-1850 –
Modinhas e Serenatas - O predomínio dos elementos portugueses, africanos e
indígenas faz surgir nas cidades duas formas musicais que podem ser
consideradas ancestrais da música popular brasileira: o lundu e a modinha. A
modinha, gênero que aparece quase simultaneamente em Portugal e no Brasil, é
uma forma inspirada nas árias de óperas européias com um tratamento simples e
leve. Aborda temas amorosos por meio de uma música delicada, de caráter
melancólico, que manifesta em seus versos pomposos uma pretensão de eruditismo.
O lundu é uma canção originada nas danças africanas, que tem, por isso, um
caráter rítmico, cadenciado e um sentido mais sensual. As duas formas estão
relacionadas ao ambiente urbano e são executadas nas serenatas e em casas de
família de classe média. Os músicos, conhecidos como modinheiros, são quase
sempre poetas. Entre os mais famosos se destacam Domingos Caldas Barbosa, Xisto
Bahia e Castro Alves.
1850-1900 -
Choro Animado – Desponta no Rio de Janeiro uma geração de compositores
populares da classe média. Eles compõem para o teatro de revista, sob a
influência dos gêneros europeus de dança de salão (como a polca, a mazurca e a
valsa), da modinha e do lundu. Trabalham com o choro – termo que ainda não
define um gênero de música, e sim grupos instrumentais populares que tocam à
base de muita improvisação e virtuosismo. Em 1899, Chiquinha Gonzaga compõe
Abre Alas, a primeira marcha carnavalesca. Com suas 77 peças teatrais e mais de
2 mil partituras, ela exerce influência significativa na consolidação da música
popular brasileira. Outros compositores importantes são Ernesto Nazaré este
também muito influenciado pela música erudita européia) e Patápio Silva.
Choro ou
Chorinho – Este gênero eminentemente instrumental da MPB é executado por grupos
entrosados em uma prática que incorpora a "levada" rítmica do samba
numa forma musical estruturada, na maioria das vezes, em três partes
intercaladas (AABBACCA). As linhas melódicas, que se baseiam em figuras rápidas
e ágeis, e o acompanhamento harmônico exigem grande perícia dos executantes,
que devem improvisar em diálogos e contrapontos por vezes vertiginosos. A
composição instrumental básica gira em torno de um instrumento de sopro –
geralmente a flauta – ou de um bandolim; de um cavaquinho ou um violão de
harmonia; de um de baixaria – violão de sete cordas que desempenha o papel de
baixo, tocando os sons graves do conjunto –; e de um pandeiro.
1901-1910 –
O aparecimento das gravações mecânicas possibilita a veiculação inédita do
trabalho de compositores que vão surgindo na classe média e que se servem da
tradição folclórica popular como fonte para suas obras. Um exemplo é o cantor,
poeta e músico Catulo da Paixão Cearense, autor de O Luar do Sertão, que
desenvolve um trabalho ligado às raízes sertanejas. Também são criadas as
condições para a origem do samba. De um lado, os negros pobres –
recém-libertos, moradores de cortiços no Rio de Janeiro – continuam exercitando
seus batuques e rodas de capoeira. De outro, acontecem os pagodes nas célebres
festas nas casas das tias baianas (a mais famosa é a
Tia Ciata),
depois dos ritos de devoção aos orixás. O Carnaval cresce em importância e
incorpora os desordenados blocos dos negros, com suas batucadas, e os ranchos
organizados pelos mestiços, que se agrupam em corporações profissionais nas
quais se desenvolve a marcha-rancho.
1917 - Nasce
oficialmente o Samba – Donga (Ernesto dos Santos) registra o samba carnavalesco
Pelo Telefone. Apesar de estar musicalmente mais próxima de um maxixe, a
composição marca, ao mesmo tempo, o começo da profissionalização na música
popular e o nascimento oficial do samba. Também é de 1917 a primeira gravação
de uma canção de Pixinguinha, um dos mais importantes compositores populares do
país, tanto de canções como de música instrumental. Ele estabelece as bases da
música popular, particularmente do choro, e dá início a uma linguagem
orquestral brasileira. Outros nomes ligados à criação e ao amadurecimento do
samba são Caninha (João Lins de Moraes) e João da Baiana (João Machado Guedes).
Décadas de
20 e 30 - A Era do Rádio – Dá-se a estruturação do samba – até então muito
ligado musicalmente ao maxixe – e consolidam-se as bases para praticamente
todos os outros movimentos musicais. O aparecimento e a grande expansão do
rádio possibilitam o surgimento dos primeiros ídolos populares. São inúmeros os
compositores e intérpretes que despontam nesse período. Sinhô (1888-1930), o
rei do samba; Ismael Silva, que dá forma definitiva ao gênero; Ary Barroso,
dono de uma enorme obra e inventor do samba-exaltação, autor de Aquarela do
Brasil, uma das mais famosas músicas populares; Lamartine Babo, criador de
marchas carnavalescas, como O Teu Cabelo Não Nega; Lupicínio Rodrigues, o
compositor das grandes dores de amor; e ainda Dorival Caymmi, músico
emblemático da Bahia. Noel Rosa, conhecido como poeta da Vila (por ter nascido
em Vila Isabel, no Rio de Janeiro), traz maior complexidade para a música
popular. Letrista habilidoso, recria o cotidiano de maneira precisa e densa,
registrando nos sambas todos os seus amores. Os primeiros ídolos nacionais do
rádio, no entanto, são intérpretes, como Carmen Miranda, Francisco Alves e
Mário Reis.
Década de 40
- Música de Raiz – O impacto da II Guerra Mundial causa uma sensível diminuição
no espaço destinado à música nas emissoras de rádio, e o gênero popular se
ressente em qualidade e quantidade. Com o fim da guerra, em 1945, o cinema, a
TV e a música norte-americana invadem o mundo e também o Brasil. No ano
seguinte é lançado Baião, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que marca o
aparecimento de um estilo com sólidas raízes no folclore rural nordestino. A
partir daí, uma série de canções, como Asa Branca, Paraíba e Assum Preto,
consolida o sucesso de Luiz Gonzaga. Suas músicas agradam à população que foi
para as cidades, geralmente fugindo do flagelo da seca.É uma abertura para um
rico universo rítmico, que ainda é utilizado por músicos contemporâneos.
Década de
1950 - Baião e Bossa Nova – O prestígio de Luiz Gonzaga abre caminho para
muitos outros que dão continuidade ao movimento de agregar ao sul a rica
musicalidade do Nordeste. O baião, o coco, o xaxado e o arrasta-pé são apenas
alguns dos ritmos trazidos por artistas como Jackson do Pandeiro e Alvarenga e
Ranchinho. Enquanto, de um lado, se firma o baião, de outro aparece o
samba-canção, como uma expressão mais adequada à década, caracterizada pela
melancolia do pós-guerra. Esse samba mais lento, suave e com orquestração
sofisticada logo se torna um modismo e aponta para o surgimento da bossa nova.
Sua temática gira, quase sempre, em torno de grandes decepções amorosas.
Antônio Maria e Dolores Duran, como compositores, e uma infinidade de
intérpretes, como Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela Maria e
Caubi Peixoto, consolidam seu sucesso nessa época, que é marcada pelo apogeu do
rádio.
1958 – A
crescente suavização rítmica e a introdução de harmonias mais sofisticadas ao
samba, iniciada com o samba-canção, contribuem para o aparecimento da bossa
nova. O marco é o lançamento do disco Canção do Amor Demais, de Elizeth
Cardoso. Nele atuam juntos em diversas canções, em especial em Chega de
Saudade, os três personagens mais importantes do movimento: Tom Jobim, Vinicius
de Moraes (como letrista) e João Gilberto – este último cria um estilo muito
pessoal de acompanhamento ao violão que incorpora alterações de acordes
influenciadas pelo jazz. Outras características do movimento são a expansão dos
recursos harmônicos e a atitude introspectiva e sofisticada dos músicos.
Década de
1960 – Alguns músicos antes ligados à bossa nova reagem à alienação política
desse gênero musical e ao excessivo domínio do jazz, iniciando um movimento de
revalorização do samba tradicional e da temática dos morros. Nara Leão, até
então a musa da bossa nova, reabilita e grava músicas de Cartola e Nelson
Cavaquinho, a partir de 1964.
1965 - A Era
dos Festivais – A TV Excelsior organiza o primeiro Festival de Música Popular
Brasileira. Em 1966 e 1967 são realizados outros dois pela TV Record. Esses
festivais lançam nomes como Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Milton
Nascimento e Elis Regina. Com o crescente poder de comunicação da televisão,
esses artistas se tornam conhecidos em todo o país. Como reação ao agravamento
da repressão política e da censura, aumenta a importância da canção de
protesto. Estréia o programa musical Jovem Guarda, na TV Record. Seu nome passa
a ser associado a um movimento que pretende contrapor-se à velha-guarda –
cantores anterioresà chegada do rock no Brasil. Sua música é uma variação
suavizada do rock e recebe o nome de iê-iê-iê. As letras, românticas e
descontraídas, agradam ao público adolescente. Os principais membros da jovem
guarda são Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
1967-1968 –
O Tropicalismo surge no Festival da Record, com os compositores baianos Caetano
Veloso (concorrendo com Alegria, Alegria) e Gilberto Gil (com Domingo no
Parque). Os arranjos, incluindo as guitarras herdadas da jovem-guarda, causam
polêmica junto aos músicos e ao público nacionalistas. O disco-manifesto
Tropicália ou Panis et Circensis (1968), com a presença de Tom Zé, Gal Costa,
Mutantes, Nara Leão e do maestro Rogério Duprat, traz referências desde o
trágico Vicente Celestino (1894-1968) até o rock e a bossa nova e suscita uma
importante discussão sobre o relacionamento entre as formas supostamente
"puras" da música brasileira e as influências do pop internacional.
De maneira menos ideológica, Jorge Ben, trabalhando com o trio Mocotó, toca na
mesma questão ao fundir as batidas do rock e do samba; Tim Maia mescla funk e
baião.
Década de
1970 - Diversidade Musical – Compositores e intérpretes de várias partes do
país consolidam o sucesso nos grandes centros urbanos. Gal Costa e a irmã de
Caetano Veloso, Maria Bethânia, firmam-se entre as cantoras de maior prestígio.
De Alagoas vem Djavan; do Pará, Fafá de Belém; do Ceará, Belchior, Fagner e
Ednardo; de Pernambuco, Alceu Valença; da Paraíba, Zé Ramalho e Elba Ramalho;
da Bahia, os Novos Baianos; do Rio de Janeiro, Luiz Melodia, Beth Carvalho e
Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha); de Sâo Paulo, Guilherme Arantes; de Minas
Gerais, músicos que se ligam a Milton Nascimento, como Beto Guedes, Wagner
Tiso, Toninho Horta e Lô Borges, formando o Clube da Esquina. No samba
sobressaem Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Clementina de Jesus, Ivone
Lara, João Bosco e Aldir Blanc. Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia e Clara
Nunes firmam-se como as cantoras de maior prestígio. No rock destaca-se o
trabalho de Raul Seixas e de Rita Lee, que, separada dos Mutantes, faz seus
primeiros trabalhos-solo. Destacam-se Erasmo Carlos e sua Cia. Paulista de
Rock, Made in Brazil, Casa das Máquinas, O Terço (RJ) e Almôndegas (RS). Nesse
período, a banda paulistana Secos & Molhados ganha notoriedade. Os
tropicalistas, Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben, mais tarde Ben
Jor, seguem na sua desinibida construção de um som pop nacional. Nomes como o
paulista Walter Franco e os cariocas Jorge Mautner e Jards Macalé (um dos
principais arranjadores do Tropicalismo) ficam conhecidos como "os
malditos", ao fazer um som denso, urbano e com elementos musicais e
poéticos inusitados. Nessa década acontecem também importantes festivais de
jazz, que abrem caminho para a música instrumental.
MÚSICA
INSTRUMENTAL – Com origem nos grupos de choro, nas corporações de profissionais
e nas bandas militares, a música instrumental brasileira tem raízes no rico
universo rítmico folclórico do país. A isso se alia a influência do jazz,
incluindo a improvisação, e da música erudita. Na década de 1970 surge uma
produção instrumental de alta qualidade em várias regiões, que incorpora os
diferentes sotaques locais. Um grande número dos músicos que se destacam a
partir daí fez importantes trabalhos com cantores e compositores de canção.
Esse é o caso de César Camargo Mariano, com seus arranjos para Elis Regina, e
de Wagner Tiso, que acompanhou Milton Nascimento. Hermeto Pascoal e Egberto
Gismonti fizeram o caminho inverso, o primeiro acompanhando o cantor de protesto
Geraldo Vandré e o segundo gravando inicialmente uma discografia cantada. Mesmo
não sendo comercialmente muito divulgada, a música instrumental brasileira é
respeitada no mundo inteiro.
1980-1983 –
O rock, o punk, a new wave e suas diversas ramificações pop dominam o mercado
fonográfico internacional e são assimilados com extrema rapidez no Brasil. O
país segue rapidamente a principal mensagem desse revolucionário e libertário
período, contida na proposta musical punk: a de que qualquer um, literalmente,
poderia formar uma banda e tocar apenas certos acordes. É o
"faça-você-mesmo". Essas formas musicais, diretamente decalcadas de
modelos estrangeiros (notadamente ingleses e norte-americanos), esfriam as
tentativas de constituir uma música pop com características brasileiras.
1984-1989 –
Os grandes nomes da MPB dos anos 1970 vendem menos nos anos 80, e alguns
artistas desaparecem do cenário musical. Paralelamente surge um movimento com
outros nomes ligados à estética da MPB, chamado de vanguarda paulistana, que
mantém trabalhos esparsos nos anos 1990. A modificação fundamental no panorama
da música popular brasileira é a transformação do rock nacional num fenômeno
comercial bastante significativo, com o surgimento de uma nova safra de ídolos.
Nasce assim uma consistente produção underground nacional, principalmente em
São Paulo e com menor força no Rio de Janeiro. Várias delas continuam a criar
uma obra relevante nos anos 1990, como Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso,
Titãs, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii e Barão Vermelho, da qual mais tarde
sai o vocalista Cazuza para uma destacada carreira-solo. Individualmente,
aparecem trabalhos de artistas como Lobão, Ritchie, Leo Jaime, Eduardo Dusek,
Kiko Zambianchi, Marina Lima e Lulu Santos. Rita Lee e Raul Seixas continuam a
produzir. O rock domina o panorama musical brasileiro quase até o fiml da
década, quando uma renovada produção começa a estabelecer parâmetros musicais
genuinamente nacionais e populares, abrindo outro cenário para a década de
1990.
Fonte:
ALMAMANQUE
ABRIL - 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005.
ALMAMANQUE
ABRIL - 2012. São Paulo: Editora Abril, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário