terça-feira, 5 de junho de 2018

História da Música Brasileira



Século XVI-XVIII – Um universo bastante rico surge com as contribuições musicais das diversas etnias que compõem o povo brasileiro. Os colonizadores portugueses trazem a tradição das peças eruditas européias, um acervo de cantigas populares, além do som das fanfarras militares dos regimentos do exército que aqui se alojaram. Há também influências da música sacra, trazida pelas várias missões católicas. Os escravos africanos mantêm a música marcada por uma forte energia rítmica e percussiva em seus ritos religiosos. Os povos indígenas, por sua vez, a praticam ligada a cerimônias significativas no cotidiano da vida tribal.

1750-1850 – Modinhas e Serenatas - O predomínio dos elementos portugueses, africanos e indígenas faz surgir nas cidades duas formas musicais que podem ser consideradas ancestrais da música popular brasileira: o lundu e a modinha. A modinha, gênero que aparece quase simultaneamente em Portugal e no Brasil, é uma forma inspirada nas árias de óperas européias com um tratamento simples e leve. Aborda temas amorosos por meio de uma música delicada, de caráter melancólico, que manifesta em seus versos pomposos uma pretensão de eruditismo. O lundu é uma canção originada nas danças africanas, que tem, por isso, um caráter rítmico, cadenciado e um sentido mais sensual. As duas formas estão relacionadas ao ambiente urbano e são executadas nas serenatas e em casas de família de classe média. Os músicos, conhecidos como modinheiros, são quase sempre poetas. Entre os mais famosos se destacam Domingos Caldas Barbosa, Xisto Bahia e Castro Alves.

1850-1900 - Choro Animado – Desponta no Rio de Janeiro uma geração de compositores populares da classe média. Eles compõem para o teatro de revista, sob a influência dos gêneros europeus de dança de salão (como a polca, a mazurca e a valsa), da modinha e do lundu. Trabalham com o choro – termo que ainda não define um gênero de música, e sim grupos instrumentais populares que tocam à base de muita improvisação e virtuosismo. Em 1899, Chiquinha Gonzaga compõe Abre Alas, a primeira marcha carnavalesca. Com suas 77 peças teatrais e mais de 2 mil partituras, ela exerce influência significativa na consolidação da música popular brasileira. Outros compositores importantes são Ernesto Nazaré este também muito influenciado pela música erudita européia) e Patápio Silva.

Choro ou Chorinho – Este gênero eminentemente instrumental da MPB é executado por grupos entrosados em uma prática que incorpora a "levada" rítmica do samba numa forma musical estruturada, na maioria das vezes, em três partes intercaladas (AABBACCA). As linhas melódicas, que se baseiam em figuras rápidas e ágeis, e o acompanhamento harmônico exigem grande perícia dos executantes, que devem improvisar em diálogos e contrapontos por vezes vertiginosos. A composição instrumental básica gira em torno de um instrumento de sopro – geralmente a flauta – ou de um bandolim; de um cavaquinho ou um violão de harmonia; de um de baixaria – violão de sete cordas que desempenha o papel de baixo, tocando os sons graves do conjunto –; e de um pandeiro.

1901-1910 – O aparecimento das gravações mecânicas possibilita a veiculação inédita do trabalho de compositores que vão surgindo na classe média e que se servem da tradição folclórica popular como fonte para suas obras. Um exemplo é o cantor, poeta e músico Catulo da Paixão Cearense, autor de O Luar do Sertão, que desenvolve um trabalho ligado às raízes sertanejas. Também são criadas as condições para a origem do samba. De um lado, os negros pobres – recém-libertos, moradores de cortiços no Rio de Janeiro – continuam exercitando seus batuques e rodas de capoeira. De outro, acontecem os pagodes nas célebres festas nas casas das tias baianas (a mais famosa é a
Tia Ciata), depois dos ritos de devoção aos orixás. O Carnaval cresce em importância e incorpora os desordenados blocos dos negros, com suas batucadas, e os ranchos organizados pelos mestiços, que se agrupam em corporações profissionais nas quais se desenvolve a marcha-rancho.

1917 - Nasce oficialmente o Samba – Donga (Ernesto dos Santos) registra o samba carnavalesco Pelo Telefone. Apesar de estar musicalmente mais próxima de um maxixe, a composição marca, ao mesmo tempo, o começo da profissionalização na música popular e o nascimento oficial do samba. Também é de 1917 a primeira gravação de uma canção de Pixinguinha, um dos mais importantes compositores populares do país, tanto de canções como de música instrumental. Ele estabelece as bases da música popular, particularmente do choro, e dá início a uma linguagem orquestral brasileira. Outros nomes ligados à criação e ao amadurecimento do samba são Caninha (João Lins de Moraes) e João da Baiana (João Machado Guedes).

Décadas de 20 e 30 - A Era do Rádio – Dá-se a estruturação do samba – até então muito ligado musicalmente ao maxixe – e consolidam-se as bases para praticamente todos os outros movimentos musicais. O aparecimento e a grande expansão do rádio possibilitam o surgimento dos primeiros ídolos populares. São inúmeros os compositores e intérpretes que despontam nesse período. Sinhô (1888-1930), o rei do samba; Ismael Silva, que dá forma definitiva ao gênero; Ary Barroso, dono de uma enorme obra e inventor do samba-exaltação, autor de Aquarela do Brasil, uma das mais famosas músicas populares; Lamartine Babo, criador de marchas carnavalescas, como O Teu Cabelo Não Nega; Lupicínio Rodrigues, o compositor das grandes dores de amor; e ainda Dorival Caymmi, músico emblemático da Bahia. Noel Rosa, conhecido como poeta da Vila (por ter nascido em Vila Isabel, no Rio de Janeiro), traz maior complexidade para a música popular. Letrista habilidoso, recria o cotidiano de maneira precisa e densa, registrando nos sambas todos os seus amores. Os primeiros ídolos nacionais do rádio, no entanto, são intérpretes, como Carmen Miranda, Francisco Alves e Mário Reis.

Década de 40 - Música de Raiz – O impacto da II Guerra Mundial causa uma sensível diminuição no espaço destinado à música nas emissoras de rádio, e o gênero popular se ressente em qualidade e quantidade. Com o fim da guerra, em 1945, o cinema, a TV e a música norte-americana invadem o mundo e também o Brasil. No ano seguinte é lançado Baião, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que marca o aparecimento de um estilo com sólidas raízes no folclore rural nordestino. A partir daí, uma série de canções, como Asa Branca, Paraíba e Assum Preto, consolida o sucesso de Luiz Gonzaga. Suas músicas agradam à população que foi para as cidades, geralmente fugindo do flagelo da seca.É uma abertura para um rico universo rítmico, que ainda é utilizado por músicos contemporâneos.

Década de 1950 - Baião e Bossa Nova – O prestígio de Luiz Gonzaga abre caminho para muitos outros que dão continuidade ao movimento de agregar ao sul a rica musicalidade do Nordeste. O baião, o coco, o xaxado e o arrasta-pé são apenas alguns dos ritmos trazidos por artistas como Jackson do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho. Enquanto, de um lado, se firma o baião, de outro aparece o samba-canção, como uma expressão mais adequada à década, caracterizada pela melancolia do pós-guerra. Esse samba mais lento, suave e com orquestração sofisticada logo se torna um modismo e aponta para o surgimento da bossa nova. Sua temática gira, quase sempre, em torno de grandes decepções amorosas. Antônio Maria e Dolores Duran, como compositores, e uma infinidade de intérpretes, como Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela Maria e Caubi Peixoto, consolidam seu sucesso nessa época, que é marcada pelo apogeu do rádio.

1958 – A crescente suavização rítmica e a introdução de harmonias mais sofisticadas ao samba, iniciada com o samba-canção, contribuem para o aparecimento da bossa nova. O marco é o lançamento do disco Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso. Nele atuam juntos em diversas canções, em especial em Chega de Saudade, os três personagens mais importantes do movimento: Tom Jobim, Vinicius de Moraes (como letrista) e João Gilberto – este último cria um estilo muito pessoal de acompanhamento ao violão que incorpora alterações de acordes influenciadas pelo jazz. Outras características do movimento são a expansão dos recursos harmônicos e a atitude introspectiva e sofisticada dos músicos.

Década de 1960 – Alguns músicos antes ligados à bossa nova reagem à alienação política desse gênero musical e ao excessivo domínio do jazz, iniciando um movimento de revalorização do samba tradicional e da temática dos morros. Nara Leão, até então a musa da bossa nova, reabilita e grava músicas de Cartola e Nelson Cavaquinho, a partir de 1964.

1965 - A Era dos Festivais – A TV Excelsior organiza o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Em 1966 e 1967 são realizados outros dois pela TV Record. Esses festivais lançam nomes como Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Milton Nascimento e Elis Regina. Com o crescente poder de comunicação da televisão, esses artistas se tornam conhecidos em todo o país. Como reação ao agravamento da repressão política e da censura, aumenta a importância da canção de protesto. Estréia o programa musical Jovem Guarda, na TV Record. Seu nome passa a ser associado a um movimento que pretende contrapor-se à velha-guarda – cantores anterioresà chegada do rock no Brasil. Sua música é uma variação suavizada do rock e recebe o nome de iê-iê-iê. As letras, românticas e descontraídas, agradam ao público adolescente. Os principais membros da jovem guarda são Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

1967-1968 – O Tropicalismo surge no Festival da Record, com os compositores baianos Caetano Veloso (concorrendo com Alegria, Alegria) e Gilberto Gil (com Domingo no Parque). Os arranjos, incluindo as guitarras herdadas da jovem-guarda, causam polêmica junto aos músicos e ao público nacionalistas. O disco-manifesto Tropicália ou Panis et Circensis (1968), com a presença de Tom Zé, Gal Costa, Mutantes, Nara Leão e do maestro Rogério Duprat, traz referências desde o trágico Vicente Celestino (1894-1968) até o rock e a bossa nova e suscita uma importante discussão sobre o relacionamento entre as formas supostamente "puras" da música brasileira e as influências do pop internacional. De maneira menos ideológica, Jorge Ben, trabalhando com o trio Mocotó, toca na mesma questão ao fundir as batidas do rock e do samba; Tim Maia mescla funk e baião.

Década de 1970 - Diversidade Musical – Compositores e intérpretes de várias partes do país consolidam o sucesso nos grandes centros urbanos. Gal Costa e a irmã de Caetano Veloso, Maria Bethânia, firmam-se entre as cantoras de maior prestígio. De Alagoas vem Djavan; do Pará, Fafá de Belém; do Ceará, Belchior, Fagner e Ednardo; de Pernambuco, Alceu Valença; da Paraíba, Zé Ramalho e Elba Ramalho; da Bahia, os Novos Baianos; do Rio de Janeiro, Luiz Melodia, Beth Carvalho e Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha); de Sâo Paulo, Guilherme Arantes; de Minas Gerais, músicos que se ligam a Milton Nascimento, como Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta e Lô Borges, formando o Clube da Esquina. No samba sobressaem Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Clementina de Jesus, Ivone Lara, João Bosco e Aldir Blanc. Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia e Clara Nunes firmam-se como as cantoras de maior prestígio. No rock destaca-se o trabalho de Raul Seixas e de Rita Lee, que, separada dos Mutantes, faz seus primeiros trabalhos-solo. Destacam-se Erasmo Carlos e sua Cia. Paulista de Rock, Made in Brazil, Casa das Máquinas, O Terço (RJ) e Almôndegas (RS). Nesse período, a banda paulistana Secos & Molhados ganha notoriedade. Os tropicalistas, Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben, mais tarde Ben Jor, seguem na sua desinibida construção de um som pop nacional. Nomes como o paulista Walter Franco e os cariocas Jorge Mautner e Jards Macalé (um dos principais arranjadores do Tropicalismo) ficam conhecidos como "os malditos", ao fazer um som denso, urbano e com elementos musicais e poéticos inusitados. Nessa década acontecem também importantes festivais de jazz, que abrem caminho para a música instrumental.

MÚSICA INSTRUMENTAL – Com origem nos grupos de choro, nas corporações de profissionais e nas bandas militares, a música instrumental brasileira tem raízes no rico universo rítmico folclórico do país. A isso se alia a influência do jazz, incluindo a improvisação, e da música erudita. Na década de 1970 surge uma produção instrumental de alta qualidade em várias regiões, que incorpora os diferentes sotaques locais. Um grande número dos músicos que se destacam a partir daí fez importantes trabalhos com cantores e compositores de canção. Esse é o caso de César Camargo Mariano, com seus arranjos para Elis Regina, e de Wagner Tiso, que acompanhou Milton Nascimento. Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti fizeram o caminho inverso, o primeiro acompanhando o cantor de protesto Geraldo Vandré e o segundo gravando inicialmente uma discografia cantada. Mesmo não sendo comercialmente muito divulgada, a música instrumental brasileira é respeitada no mundo inteiro.

1980-1983 – O rock, o punk, a new wave e suas diversas ramificações pop dominam o mercado fonográfico internacional e são assimilados com extrema rapidez no Brasil. O país segue rapidamente a principal mensagem desse revolucionário e libertário período, contida na proposta musical punk: a de que qualquer um, literalmente, poderia formar uma banda e tocar apenas certos acordes. É o "faça-você-mesmo". Essas formas musicais, diretamente decalcadas de modelos estrangeiros (notadamente ingleses e norte-americanos), esfriam as tentativas de constituir uma música pop com características brasileiras.

1984-1989 – Os grandes nomes da MPB dos anos 1970 vendem menos nos anos 80, e alguns artistas desaparecem do cenário musical. Paralelamente surge um movimento com outros nomes ligados à estética da MPB, chamado de vanguarda paulistana, que mantém trabalhos esparsos nos anos 1990. A modificação fundamental no panorama da música popular brasileira é a transformação do rock nacional num fenômeno comercial bastante significativo, com o surgimento de uma nova safra de ídolos. Nasce assim uma consistente produção underground nacional, principalmente em São Paulo e com menor força no Rio de Janeiro. Várias delas continuam a criar uma obra relevante nos anos 1990, como Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Titãs, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii e Barão Vermelho, da qual mais tarde sai o vocalista Cazuza para uma destacada carreira-solo. Individualmente, aparecem trabalhos de artistas como Lobão, Ritchie, Leo Jaime, Eduardo Dusek, Kiko Zambianchi, Marina Lima e Lulu Santos. Rita Lee e Raul Seixas continuam a produzir. O rock domina o panorama musical brasileiro quase até o fiml da década, quando uma renovada produção começa a estabelecer parâmetros musicais genuinamente nacionais e populares, abrindo outro cenário para a década de 1990.




Fonte:
ALMAMANQUE ABRIL - 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005.
ALMAMANQUE ABRIL - 2012. São Paulo: Editora Abril, 2012.

domingo, 3 de junho de 2018

História da Literatura Infanto-juvenil no Brasil



Monteiro Lobato - As obras de Monteiro Lobato para crianças marcam o início da literatura infanto-juvenil em prosa no Brasil. Em 1921, ele lança o primeiro livro da série do Sítio do Pica-Pau Amarelo, A Menina do Narizinho Arrebitado. A obra conta a história de uma garota que vive no sítio de sua avó, Dona Benta, e que se diverte com seu primo Pedrinho e seus brinquedos favoritos: um sabugo que fala, batizado de Visconde de Sabugosa, e uma boneca de pano chamada Emília, que aprende a falar graças às pílulas do Dr. Caramujo. Eles vivem as aventuras no Reino das Águas Claras, no qual Narizinho se casa com o Príncipe Escamado. Essa história é o início também da criação de um imaginário brasileiro na literatura e de uma nova noção de criança: questionadora, ativa e atuante enquanto ser social e político. O livro, em formato diferenciado, apresenta o texto acompanhado de ilustrações, enfatizando a função da imagem nos livros infantis, tendência então desconhecida no Brasil, proposta pela Nova Escola de pedagogia européia. Lobato, no decorrer de sua obra, mostrou-se preocupado em cunhar uma linguagem própria para a literatura infanto-juvenil brasileira, incluindo coloquialismos, neologismos e gírias. Deste modo, ele reveste de ritmo e originalidade os diálogos das personagens e a fala do narrador. Neste momento, Lobato constata: "Estou condenado a ser o Andersen desta terra". Ele escreve e reescreve sua obra literária infantil entre 1921 e 1942, ano em que encerra o processo, publicando suas obras completas, conforme o arranjo que conhecemos atualmente. Sua produção de literatura infantil é reflexo da tendência da infanto-juvenil: de caráter misto entre realismo e imaginação fantasiosa, porque mescla literatura com aprendizagem. Na concepção da época, as obras de Lobato eram lidas por crianças. Hoje, algumas delas são consideradas para adolescentes, como Os Doze Trabalhos de Hércules, O Minotauro, Hans Staden e Dom Quixote das Crianças. Inclui-se nesse rol as adaptações de Robinson Crusoé e Robin Hood. Uma vertente que dialoga com o passado é a retomada que faz dos contos folclóricos e fábulas em O Saci, Histórias da Tia Nastácia, O Sítio do Picapau Amarelo e Fábulas. E a adaptação que faz dos contos de Grimm, Andersen e de Caroll. Em 1942, o educador Lourenço Filho apresentou um balanço sobre a literatura infantil à venda naquele momento no Brasil. Constatou 605 trabalhos publicados, sendo 434 traduções, adaptações e mesmo grosseiras imitações; no total, 171 são obras originais de autores brasileiros. Lobato se encontra entre uma dezena de nomes que se dedicam às crianças junto a Francisco Marins, Malba Tahan e Viriato Correa. As décadas de 1950 e 1960 apresentam poucos grandes nomes que souberam manter a originalidade de Lobato, como as obras infantis de Erico Verissimo, Lucia Machado de Almeida, Vicente Guimarães e Orígenes Lessa. Eles se caracterizam por terem, com maior ou menor intensidade, realizado obras em que o imaginário e o lúdico encontram uma linguagem adequada para expressar-se, abordando temas históricos, ou de inspiração folclórica ou ainda criando aventuras originais.

A revista Recreio - A revista Recreio, publicada pela Editora Abril, foi a primeira e única revista infantil semanal dos anos 1970 produzida no país. A revista mantinha uma proposta literária e lúdica com um formato diferenciado. Cada número era dedicado a um tema de interesse do universo infantil, como o Zoológico e o Circo nos dois primeiros números. As brincadeiras de cortar e colar seguem a temática da história proposta. A revista foi coordenada por Sônia Robatto nos primeiros dez anos, quando apresentou novos nomes da literatura infantil como Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Joel Rufino dos Santos. Seus mais constantes ilustradores foram Canini, Waldyr Igayara, Izomar, Brasílio e César Sandoval. Nos dez anos seguintes, Ruth Rocha coordena a revista, que recebe um novo formato, inserindo em cada exemplar uma história ilustrada longa, reportagens, histórias em quadrinhos e brincadeiras. Nessa fase encontramos histórias com texto de Sylvia Orthof, Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos, Walcir Carrasco e Rogério Borges, narrativas visuais de Otávio, César Sandoval e Rogério Borges. E todas as histórias receberam e ilustrações de Walter Ono, Rogério Borges, Cláudia Scatamacchia, José Carlos de Brito, Adalberto Carnavaca, Alcy Linnares e Helena Alexandrino. Muitas das histórias publicadas nessa fase vieram a ser publicadas em livros infantis de grande sucesso mais tarde, como Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha, Camilo, o Comilão, de Ana Maria Machado, Joaquim e a Mesa de Botequim, de Sylvia Orthof, e Marinho, o Marinheiro, de Joel Rufino dos Santos. Recreio foi, portanto, a primeira publicação a registrar e a difundir para grande número de leitores o trabalho desses novos escritores que promoveram uma renovação nos textos de literatura infantil. Deu oportunidade a artistas para atuar como ilustradores, que, mais tarde, se tornaram os grandes nomes dos livros infantis, como Walter Ono, Helena Alexandrino, Cláudia Scatamacchia, José Carlos de Brito e Rogério Borges.

Ruth Rocha

 A renovação da literatura infantil - A Lei de Diretrizes e Bases, aprovada no começo da década de 1970, durante o regime militar, enfatiza a importância de textos literários e da educação artística no processo escolar ao incentivar a leitura de autores nacionais. Esse fato, se por um lado pôs em risco a leitura como fonte de prazer quando a escolha do professor recai sobre textos que não prendem a atenção da criança, por outro propiciou um clima favorável ao aparecimento de autores voltados para questões do lúdico, do imaginário, da linguagem inovadora e poética, com questões que vão do cotidiano a problemas atuais da realidade brasileira, instigando a noção crítica e a postura de reflexão diante da realidade. Essa lei favorece o ressurgimento da literatura infantil, que, segundo Ana Maria Machado, acompanha o lastro cultural deixado por Lobato, estimulando a nova geração de escritores de literatura infantil. Nos anos 1970, vigorava a ditadura militar, a que os autores da literatura infantil reagem, questionando a figura do ditador, simbolizada pelo rei autoritário que aparece em várias obras e exemplificada pela trilogia de Ruth Rocha: O Reizinho Mandão, Sapo Vira Sapo Vira Rei, O que os Olhos Não Vêem. Por sua vez, o tema da participação social democrática aparece em títulos de Ana Maria Machado, como em Bento que É Bento e É Frade e Praga de Unicórnio. Em 1969, Ziraldo, criador de personagens de revista em quadrinhos autenticamente nacionais, reunidos em Saci Pererê, publica Flicts, livro em que explora a fusão entre a linguagem verbal e as artes gráficas. Em 1970, o artista gráfico Juarez Machado introduz a narrativa exclusivamente visual em Ida e Volta e Domingo de Manhã. Nessas obras, verificam-se duas propostas inteligentes que buscam a participação do leitor na construção do texto verbal. Mas o tom geral da produção é o da contestação. O questionamento dos valores culturais do brasileiro leva os autores a escrever paródias dos contos de fadas, como fazem Ana Maria Machado, em História Meio ao Contrário, Fernanda Lopes de Almeida, em A Fada que Tinha Idéias, e Cora Rónai, em Sapomorfose. Esse questionamento aparece também na revisitação dos contos folclóricos brasileiros, procedida por Joel Rufino dos Santos, Sônia Robatto e Antonieta Dias de Morais, nas divertidas aventuras de Asdrúbal, o Terrível, de Elvira Vigna, e na discussão dos problemas existenciais, vividos pelas personagens de Lygia Bojunga Nunes, em, por exemplo, Os Colegas, Angélica e A Bolsa Amarela.

A diversidade de temas - Na década de 1980, novos autores se fazem presentes: Sylvia Orthof, que questiona papéis e valores sociais na sátira Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro e Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa; Eva Furnari, criadora da personagem Bruxinha, que também se dedicou à narrativa visual nos livros Zuza e Arquimedes e Amendoim, gênero em que também se destaca Ângela Lago, autora de, entre outros, Chiquita Bacana. Tatiana Belinky apresenta histórias de humor, como Medroso, Medroso e A Operação do Tio Onofre, além de traduzir as coleções de poemas Di-versos Russos e Di-versos Hebraicos. Ricardo Azevedo, por sua vez, elege a literatura urbana em Um Homem no Sótão, e temática contestatória, em Nossa Rua Tem um Problema. Ciça Fittipaldi volta-se para as questões da cultura brasileira, com a Série Morená, coleção de histórias que trabalha a riqueza da linguagem indígena. A questão ecológica suscita algumas boas publicações, como a Coleção Acorda Bicho Homem, com textos de Luiz Galdino e Carlos Queiroz Telles. Rogério Andrade Barbosa dedica-se ao registro das fábulas africanas em Bichos da África e Contos ao Redor da Fogueira. A ficção científica fica por conta de Os Viajantes de Gleb e Tudo É Semente, de Rubens Matuck. A obra imaginativa fica por conta de Maria Heloisa Penteado em No Reino Perdido do Beleléu.

Anos 1990: tempo de recessão – O crescimento do número de obras estrangeiras traduzidas não impediu o aparecimento de novos autores, como Roger Mello, autor de Maria Teresa e Cavalhadas de Pirenópolis, em que recorre à arte popular para fazer uma leitura contemporânea de elementos perdidos da nossa identidade. Graça Lima dedica-se ao campo da narrativa visual, com Noite de Cão e Só Tenho Olhos pra Você, assim como Nelson Cruz em Leonardo e Noé. Leo Cunha volta-se à poesia em Cantigamente e Clave de Lua, e Celso Sisto à prosa intimista em O Beijo do Sol e Ver de Ver Meu Pai. A questão ecológica é abordada por Ângelo Machado na coleção Que Bicho Será? e por Bia Hetzel em Mati e Rita, a Orça e a Caiçara.

Anos 2000 – As obras traduzidas continuam tendo grande destaque nas estantes de literatura infantil das livrarias, assim como as versões impressas dos desenhos animados da Disney. Os grandes autores, no entanto, como Ana Maria Machado, Ziraldo, Ruth Rocha e Ângela Lago, entre outros, continuam produzindo. Aparecem algumas revelações, como Arthur Nestróvski, crítico e professor de literatura, vencedor do prêmio Jabuti de 2003 na categoria de melhor livro de ficção, com um livro de literatura infantil: Bichos Que Existem e Bichos Que Não Existem. Reginaldo Prandi, sociólogo e pesquisador da cultura afro-brasileira, também é uma das revelações, ao contar histórias iorubas para o público infantil em Ifá, o Adivinho. Além deles, Odilon Moraes, outro escritor novato, publica A Princesinha Medrosa, que ganha prêmio de melhor ilustração (do próprio Odilon) e melhor livro para criança, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, prêmio que divide com Bia Hetzel, por O Dono da Verdade. Roger Mello escreve Meninos do Mangue e é premiado com o Jabuti de 2002 e Nelson Cruz produz Chica e João, ganhador do Jabuti de 2001. Rogério de Andrade Barbosa entra na lista de honra do IBBY de 2002, com Duula, A Mulher Canibal – Um Conto Africano. Para as crianças muito pequenas, o destaque é para o casal Mary e Eliardo França.

A literatura juvenil - Temas como identidade, aventura, suspense, romance, histórias de capa e espada, mistério, biografia, conflitos familiares e diário sempre foram de interesse do público adolescente, antes mesmo de ele ser nomeado como um público específico. Somente após a II Guerra Mundial, a juventude passou gradativamente a ser foco de atenção. A contracultura dos anos 1960 acentuou muito essa tendência. Hoje em dia ser jovem é algo a ser preservado e valorizado. E a mídia descobriu os jovens enquanto consumidores. Baseados nesse novo conceito, a literatura também estabelece um nicho no mercado, intitulando-o Literatura Juvenil. O adolescente que vive um período de autodefinição, de busca de identidade e do delineamento da personalidade procura nos livros e no mundo respostas às suas indagações. Entretanto, até os anos 1950, a leitura dos jovens era pautada por eles mesmos, quando elegiam autores que trabalhavam temas sociais, aventura, suspense, romance, mistério e terror, dedicando-se à leitura das obras de Charles Dickens, Jack London, Karl May, Jules Verne, Robert Louis Stevenson, J. D. Salinger, Hemingway, Kafka, Mary Shelley e outros. E incluindo entre as leituras, autores brasileiros, como Lobato, Malba Tahan, José Lins do Rego, Viriato Correia, Lucia Machado de Almeida, Francisco Marins, Fernando Sabino, Jorge Amado e Maria José Dupré.

A década de 1970 proporciona um aumento de publicações dirigidas aos adolescentes. As editoras relançam autores clássicos, estrangeiros e brasileiros, e novos autores, como João Carlos Marinho, com a Turma do Gordo, que aborda temas polêmicos até os anos 1990, e Edy Lima, com a série da Vaca Voadora. Ambos abordam o humor de forma inteligente e divertida. Outro escritor que une humor e imaginação é Orígenes Lessa. Marcos Rey, Stella Carr Ribeiro, Luis Galdino, Odette de Barros Mott e Ganymédes José preferem a temática da aventura e do mistério, que garante grandes tiragens. Destacam-se no romance mais intimista, que trata da adolescência feminina, Giselda Laporta Nicodélis e Antonieta Dias de Morais. Por sua vez, José Mauro de Vasconcellos responde pelo romance dramático, com Meu Pé de Laranja Lima, entre outros.

A literatura para os adolescentes – Na década de 1980, produz-se grande quantidade de obras do gênero "diário íntimo", enfocando diversos aspectos da vida dos adolescentes. Investem nessa linha os escritores Álvaro Cardoso Gomes, Luiz Antonio Aguiar, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Ronald Claver, Vivina de Assis Viana e Sylvia Orthof. Essa é, porém, a fase da diversidade de temas, estilos e abordagens. Dedicam-se a essa diversidade autores de grande imaginação, como Lygia Bojunga Nunes, Eliane Ganem, Marina Colasanti, Lino de Albergaria, Mirna Pinsky, Leila Reintróia Ianonne e Liliana Iacocca. Nessa década ainda são publicados romances de denúncia social, com
destaque para autores como Sérgio Caparelli, Charles Kiefer e Sonia Rodrigues Motta. Destaca-se ainda a narrativa de questionamento da cultura indígena na América Latina, como propõe Ana Maria Machado, em De Olho nas Penas, que recebeu o Prêmio Casa de Las Américas em, 1980.

Temáticas urbanas - Nos anos 1990, os romances de temática urbana apresentam o ponto de vista do adolescente diante das mudanças de seu papel social e do próprio ambiente urbano. Ricardo Azevedo, Marcelo Carneiro da Cunha e Toni Brandão voltam-se a essas questões. Há os romances intimistas, que tratam de conflitos emocionais sérios, de que são exemplo as obras de Ana Maria Machado, como Bisa Bia Bisa Bel, Bartolomeu Campos Queirós, como Em Nome do Pai, e Lygia Bojunga Nunes, em Tchau. Há romances que inserem a nova concepção de mulher, família e relacionamento, como faz Sylvia Orthof em obras como O Livro que Ninguém Vai Ler, Vera Dias em Ninguém Tira Esse Sorriso de Mim, Fanny Abramovith, em Roda Mundo; e os de problematização política e social, exemplificados pela obra de Renato Tapajós, Os Carapintadas, e pela Coleção As Aventuras de Ivo Cotoxó, de Paulo Rangel. A prosa detetivesca cresce em qualidade literária com o trabalho de Paulo Rangel, em Assassinato do Conto Policial. A fertilidade da literatura infanto-juvenil brasileira e a qualidade dos livros e autores ficaram testemunhadas e comprovadas com o galardão conferido a Ana Maria Machado, contemplada, em 2000, com o Prêmio Hans Christian Andersen pelo conjunto de sua obra.

Anos 2000 - Os fenômenos Harry Potter e Artemis Fowl roubam a cena da literatura infanto-juvenil. A exibição da trilogia de O Senhor dos Anéis no cinema também voltou a despertar interesse sobre o livro de J.R.R.Tolkien, que ganhou novas edições. Uma marca do período é a estréia de escritores já conceituados se voltando para o público juvenil, como Luis Fernando Verissimo, com O Santinho, José Roberto Torero, com Uma História de Futebol, e Carlos Heitor Cony, adaptando Alexandre Dumas em O Máscara de Ferro. Têm destaque, ainda, novos escritores, como Adriana Falcão, autora de Luna Clara e Apolo Onze, que dividiu o prêmio de melhor livro para jovens da Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil com Fernando Vaz, autor de Mohamed: Um Menino Afegão. Além deles, Joel Rufino dos Santos é muito bem avaliado por Quando Eu Voltei, Tive uma Surpresa. Fábulas do Amor Distante, de Marco Túlio Costa, e Contos de Enganar a Morte, de Ricardo Azevedo, conquistam os primeiros lugares do Jabuti de 2004.




Fonte: ALMAMANQUE ABRIL - 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005.
Fonte Imagem na ordem sequencial da apresentação:
(01) -
(02) http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-pode-ser-so-folia-423575.shtml


Cultura e seus conceitos



 Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.

Cada país tem a sua própria cultura, que é influenciada por vários fatores. A cultura brasileira é marcada pela boa disposição e alegria, e isso se reflete também na música, no caso do samba, que também faz parte da cultura brasileira. No caso da cultura portuguesa, o fado é o patrimônio musical mais famoso, que reflete uma característica do povo português: o saudosismo.

Cultura na língua latina, entre os romanos tinha o sentido de agricultura,que se referia ao cultivo da terra para a produção, e ainda hoje é conservado desta forma quando é referida a cultura do soja, a cultura do arroz, etc.

Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada variante da herança social. Já em biologia a cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados.

A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspetos procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.

A cultura é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.


Cultura na Filosofia

Cultura em filosofia é explicada como o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou o comportamento natural. É uma atitude de interpretação pessoal e coerente da realidade, destinada a posições suscetíveis de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento. Além dessa condição pessoal, cultura envolve sempre uma exigência global e uma justificação satisfatória, sobretudo para o próprio. Podemos dizer que há cultura quando essa interpretação pessoal e global se liga a um esforço de informação no sentido de aprofundar a posição adotada de modo a poder intervir em debates. Essa dimensão pessoal da cultura, como síntese ou atitude interior, é indispensável.


Cultura na Antropologia

Cultura na antropologia é compreendida como a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. A cultura como antropologia procura alcançar ou representar o saber experiente de uma comunidade apreendido através da organização do seu espaço, na ocupação do seu tempo, na manutenção e defesa das suas formas de relação humana e conceitos médios, chegando àquilo a que podemos chamar a sua alma cultural no sentido das normas de condutas ideais estéticas e formas de apresentação, tudo concebido à sua medida. Obtém esses resultados no cotidiano tanto fortuito como regular, como ainda nas suas expressões de festa, homenagem e sacrifício.


Cultura Popular

A cultura popular é algo criado por um determinado povo, sendo que esse povo tem parte ativa nessa criação. Pode ser literatura, música, arte, etc. A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão e é formada graças ao contato entre indivíduos de certas regiões.




Fonte: http://www.significados.com.br/cultura/
Fonte Imagem: www.adital.com.br

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Tear Mineiro 5 anos - em nova plataforma

Bem-vindo à nova plataforma digital do Tear Mineiro!  Criado em 2013, em junho completa 5 anos na divulgação da Cultura. O formato de Blog contará com a migração de todo o conteúdo do antigo site, bem como de novos posts especializados na Cultura.